O verão demora-se, às baforadas, na tarde parada,
pesada do Ribatejo. Seco-me, após o banho, estendida no relvado, um livro
aberto, esquecido a meu lado. A luz cega, pouso na esteira a cabeça, dormente
do estupor estival e do zurzir ensurdecedor das cigarras. Bocejo, semicerro os
olhos; dormitar. Lá do alto acenam as agulhas; no ar quente, carregado do
odor a resina, estalam pinhas que caem surdas no solo seco em meu redor.
A sombra dos pinheiros é a única frescura no
jardim; densa, escura, abóbada tal uma casa. Pinheiros são árvores bravias, sem
vaidades, solitárias, sem manias. E crescem altaneiras, um pouco tortas e
esquecidas – como certas pessoas - nos penhascos, nas serras, na areia. O seu
sussurar é música de embalar, para a sesta ronceira que se acomoda.
A tarde avança em horas iguais, o arvoredo no
outeiro ensombra, pouco a pouco, o jardim – enfim, tréguas do calor!
Uma aragem brusca desperta-me do torpor, revolvendo subitamente as folhas do livro. Um murmúrio eriça a água, as árvores desconversam, num protesto.
É um estranho alerta, tremor, quase temor que percorre a mata; um resmungo das carumas resinosas, de copas escuras e fartas no céu, não um débil frufulhar de folhas caducas.
Calam-se as cigarras, ensombram-se as clareiras... Por um momento, o mundo fica em suspenso, nem vozes, nem sol, nem pássaros, nem águas, nem dia... só vento!
Ergo-me pesadamente, enfim rendida, lobrigando o vale que se estende a caminho de Almourol: o sol esmorece já atrás das colinas, despojos do dia que se despede espelhados no rio. O vento que apagou a tarde, sossega então... Recolho ao alpendre, as faces ainda rubras do sol, quase se arrepiam no dia que tepidamente se fina.
Uma aragem brusca desperta-me do torpor, revolvendo subitamente as folhas do livro. Um murmúrio eriça a água, as árvores desconversam, num protesto.
É um estranho alerta, tremor, quase temor que percorre a mata; um resmungo das carumas resinosas, de copas escuras e fartas no céu, não um débil frufulhar de folhas caducas.
Calam-se as cigarras, ensombram-se as clareiras... Por um momento, o mundo fica em suspenso, nem vozes, nem sol, nem pássaros, nem águas, nem dia... só vento!
Ergo-me pesadamente, enfim rendida, lobrigando o vale que se estende a caminho de Almourol: o sol esmorece já atrás das colinas, despojos do dia que se despede espelhados no rio. O vento que apagou a tarde, sossega então... Recolho ao alpendre, as faces ainda rubras do sol, quase se arrepiam no dia que tepidamente se fina.
Põe-se a noite morna. Cantam os grilos, Constância
branca luz na outra margem, ao luar de Zêzere e Tejo contra o recorte escuro
dos montes, como gigantes deitados.
Imóvel, descalça na tijoleira ainda quente da varanda, contemplo o Tejo prateado; o tecto do mundo são os pinheiros, bravos, quietos, calados.
Alta, amena, azul, a noite de verão lampeja numa filigrana de estrelas douradas entre agulhas e pinhas.
Imóvel, descalça na tijoleira ainda quente da varanda, contemplo o Tejo prateado; o tecto do mundo são os pinheiros, bravos, quietos, calados.
Alta, amena, azul, a noite de verão lampeja numa filigrana de estrelas douradas entre agulhas e pinhas.
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