Tuesday 8 December 2015

Maria, há muitas!


Maria, há muitas na terra!
Maria ícone, modelo,
Maria das imagens e quadros.
Maria estática, alva estátua,
De vestes diáfanas,
Inatingível num pedestal,
Na penumbra duma capela.,,
  
Pois a minha Maria, é outra!...
É pessoa de confiança,
Vem a casa!
Mora incógnita
Num monte aqui por cima!
Noite e dia, no breu, vento,
Chuva, frio e nevoeiro
Porto amigo,
Quase esquecido,
Um banco, a vela ao lado,
Sempre à espera...
  
É mulher valente, de fibra
Do presente,
Pessoa de corpo e alma
De carne e osso,
E sangue na guelra!
Tem cabelo grisalho,
E rosto marcado
Do pranto,
Coração que bate,
Por quem ama!
  
Maria é grande!
Acode e ampara,
Seus ombros latos,
Do que abraça,
As ancas largas,
E pés calejados,
De tanto que corre,
Caminha, e passa!
Maria das mãos nodosas
 É faz-tudo,
Não se furta a nada!
  
É Mãe de todos,
Sofre connosco,
Com olhos presentes,
Nobres, sossegados,
Que escutam,
Contemplam, hospedam
 E não culpam.
Maria é companhia
 Estende a mão amiga e forte,
Chama-nos a si e leva-nos com ela!
  
Maria-Coragem, é acrobata:
Quando a encontramos,
Tira-nos o fardo, as dores
Pega-nos ao colo,
E de alegria,
Numa pirueta
Atira-nos ao ar,
ao Céu, a Deus,
E recolhe-nos
Mansamente ao voltar!

Saturday 28 November 2015

O Pois


O pois português, é difícil de traduzir… É uso traiçoeiro e apenas luso, que denuncia logo um português entre brasileiros... É que pois, ouve-se mesmo muito! Pode querer dizer muita coisa, é certo, mas no fim, não diz nada... O pois é útil: é polido, não contradiz, antes pelo contrário! Quem pois, é ambíguo, não se compromete. Afinal, o pois é só conversa...



Pior: o pois nem sequer é assentimento, é mero bocejo. É enfadonho, vago, desatento, indiferente, falta de consideração. Mais vale não dizer nada!



O pois é legítimo para dissimular rebeldia, perante pais e chefias autoritárias que não admitem ser contraditos.



O pois é fruto de insegurança. Quem diz pois, não quer dar parte de fraco... convence-se de que já sabia as verdades, ou mentiras que o outro acaba de lhe revelar, ou pregar, ou é-lhes indiferente... E até se convence de que o outro não deu conta da sua ignorância, e que apesar de português, desconhece este jogo tão popular.



O pois é sabichão. Quem pois, não se espanta, carece de curiosidade, nunca aprende, quer lá saber... O pois já sabe, é preguiça mental, letargia, não considera... Não adianta nada, é um beco sem saída. O pois é pois, antídoto da filosofia.



O uso do pois devia ser regulado, pois chega a ser abuso. O país padece, pois, de apatia geral!


Thursday 16 April 2015

O Fado das Guitarradas

Ouvi hoje o Mark Knopfler a tocar e cantar o Sultans of Swing. 
Tanto se ouvia que nunca lhe prestara muita atenção. Foi refrescante! 
Não importa se é mainstream... É prova que não são precisos 15-20 min. de solos e choradeiras de guitarra (a fazer render o peixe, como diria o meu Pai…) para um músico mostrar que é bom guitarrista.
Se não me engano, Aristóteles dizia que uma obra de arte tem de ter proporção - foi das poucas coisas que retive da estética. Sempre apreciei música de ida e volta, até ao middle eight e regresso, daí a minha predilecção pelos Beatles e pelas melodias bem exploradas e bem acabadinhas, devidamente moduladas de McCartney – bem se vê que cantou num coro litúrgico!
Não sei se Sultans of Swing também tem 16 compassos mas não tem uma nota a mais – nem a menos. É excelência, perfeição, virtuosismo puro, fluência, soberania. 
Um bom músico não maça; um bom artista, músico, escritor, não precisa de se repetir. Lembrou-me o Hendrix, Little Wing.

Thursday 26 March 2015

Haja Coração!




Nestas horas de estupor e consternação,
Ante tão inefável egoísmo,
Acometem-me revolta e indignação.
Porquê, não pergunto, pois não há razão!
Num soluço atordoado, escondo a cara nos punhos cerrados. Não!

Fica dor, amargura, ficam jovens esperanças derramadas, vidas ceifadas pelo caminho.
Sobra o pranto infindo da multidão que, entre as montanhas ermas, alvas e frias,
fita muda os céus, onde as estrelas esmoreceram.

Também eu digo, agora, que não sei onde o mundo vai parar!
Foi-se-lhe a alma...
É que costumava haver coração!
Era o pêndulo,
Ouvíamo-lo, regulava-nos o rumo,
Vencia obstáculos, lutas e montanhas.
Desfazia nós, segredava preces,
Era alento, amor e compaixão,
Baixo fundamental,
Dava a mão,
Fazia bem, sem olhar a quem
E brando, tomava sempre o partido
De quem sofria!


26.3.2015 – após desastre aéreo de German Wings

Wednesday 4 March 2015

Desalinhos do Ser




Que sei eu?...

Não posso ser senão eu
E porém, nunca fui o que sou
Mas nunca fui, nem serei o que queria,
Nem jamais serei de novo o que fui outrora.

Preferia ser igual, fiel a mim mesma mas
Sou desigual, inconstante, transiente 
E ainda assim, cansada de tanto mim.

E entre o ontem e o hoje, estou como sempre, 
entregue a mim própria.
Estou?... Sou, pronto!... Aqui, assim, agora! Ponto.
Como?...
Quem sabe de si, não escreve.
São estas as linhas com que me descoso,
É este, o desalinho que me descreve.