Thursday 26 March 2015

Haja Coração!




Nestas horas de estupor e consternação,
Ante tão inefável egoísmo,
Acometem-me revolta e indignação.
Porquê, não pergunto, pois não há razão!
Num soluço atordoado, escondo a cara nos punhos cerrados. Não!

Fica dor, amargura, ficam jovens esperanças derramadas, vidas ceifadas pelo caminho.
Sobra o pranto infindo da multidão que, entre as montanhas ermas, alvas e frias,
fita muda os céus, onde as estrelas esmoreceram.

Também eu digo, agora, que não sei onde o mundo vai parar!
Foi-se-lhe a alma...
É que costumava haver coração!
Era o pêndulo,
Ouvíamo-lo, regulava-nos o rumo,
Vencia obstáculos, lutas e montanhas.
Desfazia nós, segredava preces,
Era alento, amor e compaixão,
Baixo fundamental,
Dava a mão,
Fazia bem, sem olhar a quem
E brando, tomava sempre o partido
De quem sofria!


26.3.2015 – após desastre aéreo de German Wings

Wednesday 4 March 2015

Desalinhos do Ser




Que sei eu?...

Não posso ser senão eu
E porém, nunca fui o que sou
Mas nunca fui, nem serei o que queria,
Nem jamais serei de novo o que fui outrora.

Preferia ser igual, fiel a mim mesma mas
Sou desigual, inconstante, transiente 
E ainda assim, cansada de tanto mim.

E entre o ontem e o hoje, estou como sempre, 
entregue a mim própria.
Estou?... Sou, pronto!... Aqui, assim, agora! Ponto.
Como?...
Quem sabe de si, não escreve.
São estas as linhas com que me descoso,
É este, o desalinho que me descreve.