Sunday 15 January 2023

 

Respeitinho...

 

Diz-se que é muito bonito...

Será?

...Bonitinho, talvez!

 

Respeitinho parece respeito.

Mas à lupa, essas são 

Duas coisas muito diferentes.

 

Para já, respeitinho exige-se,

E assim, começa mal...

 

Respeito é outra louça.

É muito mais difícil,

Não é coisa que se exija,

Merece-se... ou não!

Tem de se ser digno dele,

Não é para qualquer um,

É distinção a conquistar!

 

E já agora,

Respeito não é um direito.

Fazer-se respeitar, é um dever

Que quem tem o poder,

Tem de cuidar!

 

Já o tal de respeitinho,

É o despeito de quem

Não alcança respeito!

Respeitinho é muito feio.

É o seguro com que se comprazem os fracos,

Déspotas, mestres

Pais (ou até mães), abusivos e tiranos!

 

Respeitinho é frouxo princípio,

É pouco edificante;

É pouca-vergonha,

Moral de segunda escolha,

Falta de educação,

Até rima com mesquinho!

 

Quem exige respeitinho,

Desrespeita e desrespeita-se vilmente;

Consegue o que quer, claro...

Mas colhe-o à força,

É medíocre, torpe,

Contenta-se com pouco!

 

Respeitinho vence-se

De má cara,

A troco de ameaças,

Fantasias e sanções,

Condições,

Humilhações, intimações!

Arrecada-se temor,

Muda discórdia

Paus-mandados,

Servil desdém,

Semeia-se cobardia e mal-estar!

 

Quem se compraz com respeitinho,

Está ciente de que é temido, não respeitado;

Sabe que não tem direito a mais

Mas o que importa é a aparência!

 

Respeitinho é baixo,

Pura cosmética.

Quando muito, é bonitinho,

Para inglês ver, talvez...

Mas bonito, propriamente dito,

De estético, nada tem!

 

Já com respeito,

Valores mais altos se levantam.

Esse, sim, é magnânimo.

Traz felicidade,

Tem estética, beleza intrínseca,

Faz boa figura!

 

Respeito é verdadeiro,

Autêntico,

Produz estima, apreço,

Deferência, mesmo amor!

É ética de nota,

Que se use

Com desenvoltura

De cabeça erguida,

Bonomia

Que veste a índole,

E fica bem a quem a porta!

 

Tuesday 10 January 2023

Palavra!


Abri uma loja nova,

Onde vendo palavras

Para todos os gostos:

Na montra e escaparates,

Só se veem as bonitas...

Mesmo à mão, na gaveta do balcão,

Tenho as de recurso...

Por baixo, no armário,

Pus as feias 

E, verdade seja dita,

Um ou outro palavrão!

 

O palavreado mais vasto, porém,

Está na arca dos chavões!

É para fregueses bem-falantes,

Gente fina,

De falinhas mansas,

Que entra com pezinhos de lã,

E pela calada,

Só para ver e fazer sala.

 

À gente que desdenha, mas quer comprar

Reservo palavras ambíguas a condizer:

Ora mansas, suaves,

Ora, sonantes e ofuscantes,

Inflacionadas e falsas,

Perfeitas para preencher o figurino,

Para sua conversa fiada

E de chacha!

Para esses, tenho até a jeito

Frases gratuitas, já feitas!

 

As aparências iludem e

Assim os fala-baratos,

Levam palavras

Que soam caras,

Dessas que vestem 

E se vendem bem,

Sempre por muito dinheiro!

Ao fim, sorriem com os dentes,

Fazem o choradinho,

E com lágrimas de crocodilo

E como quem não quer a coisa,

Perguntam:

“Qual é o menos que faz?...

...Se eu levar palavras ocas avulso,

Para compor o ramalhete?”

São da laia que avio com desdém e ironia,

E não dou troco pela demasia!

 

Para indecisos e gente de poucas falas,

As palavras de mastigar e ruminar

Vêm mesmo a calhar.

 

A quem prefere

Preto no branco,

Pão-pão, queijo-queijo,

Aconselho, conquanto difíceis,

As palavras cruzadas!

 

Aos tristes, sós, desprovidos, sem voz,

Entrego sem taxa, ao domicílio,

Palavras amigas e de conforto.

 

Já as palavras de honra,

De ouro, prata, sem preço,

Estão no cofre,

E não são para qualquer um!

 

Enfim, palavras para quê?...

Era tudo o que tinha a dizer!

Caso queira encomendar,

Basta deixar uma palavrinha

Que eu avio!

Palavra!