Sunday 21 August 2022

Sem Nome

Sem Nome


Dizem eles „nós“,

Já não nos incluem;

Somos agora 

Outros quaisquer.

Passámos a estranhos,

Estrangeiros, 

Forasteiros,

Nem vistos, nem achados,

Sem voto na matéria!


Ou a minha terra de outrora

mudou de casa,

Ou esta de terra…

Portanto,

Desnasço agora,

Descaso-me,

Desterro-me,

Da terra no mar 

Que se foi ao ar.


Da casa de outrora,

Fecharam-me a porta na cara

E, de portadas cerradas,

Ela se aparta, qual jangada

À deriva

No tempo e espaço…

Fica pouso, 

Paragem

Mas não morada;

 É passagem

Evanescente

Que areias falsas, movediças

Furtam pela calada.


De tantas Marias na terra

Levaram-me até a graça!

Arranjaram outra

A quem servem minhas vestes,

Uma de melhor nota,

De falas mansas

Que se pôs a jeito,

Sem provocar

dores de parto

Ali pronta para troca!


Passem eles bem.

Eu cá dei à sola e

De âmago convulso

coração atado

E alma às costas,

Mudei de porto e apelido.


Entre nós, aqui,

Valhem-me os meus,

Suas mãos, corações,

Suas asas e velas,

Remando, rimando 

Comigo,

Pois que me acolhem 

De braços abertos

E sem condições,

Em seu seguro abrigo!