Saturday 28 September 2013

Holanda


A Holanda é um país sem mistério mas é uma terra ilusória, brinca connosco. Não há colinas, não há relevo, não há florestas, nem muitos esconderijos, não é um país elevado. É horizonte. Os barcos navegam nos prados e campos de flores, os comboios circulam no asfalto, as bicicletas a par da auto-estrada, os canais correm entre casas e por viadutos acima de estradas, enquanto vacas pastam nos jardins e miram as pessoas dentro das casas. Pelas janelas amplas, sem cortinas, sem segredos, quase transparentes, vê-se dum lado ao outro das moradas. As casas são como palcos, onde acontecem cenas que até se podiam presenciar – fosse alguém ligar..
Na Holanda, as cores são fortes mas faltam sombras das árvores e dos montes, atrás dos quais nasça e se ponha o sol - que não há. A Holanda é um país liso e sem perspectiva, como certas pinturas. Tem-se a impressão de que tudo acontece num mesmo plano, no qual gente, casas, gado, flores, bicicletas, barcos, canais, campos e estradas, tudo se gerou duma vez. Percebo os quadros de Brueghel: nada diferencia os acontecimentos no espaço, nada se perde no tempo. Nem se tem a impressão de tempo; a Holanda não é um país novo mas é eterno presente.
Na Holanda há imensa água mas nunca se avista, nem se adivinha o mar. É manso, está escondido atrás dos diques e é preciso subir para o ver. Noutros lugares desce-se para o mar.

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