A Holanda é um país sem mistério mas é uma terra
ilusória, brinca connosco. Não há colinas, não há relevo, não há florestas, nem
muitos esconderijos, não é um país elevado. É horizonte. Os barcos navegam nos
prados e campos de flores, os comboios circulam no asfalto, as bicicletas a par
da auto-estrada, os canais correm entre casas e por viadutos acima de estradas,
enquanto vacas pastam nos jardins e miram as pessoas dentro das casas. Pelas janelas
amplas, sem cortinas, sem segredos, quase transparentes, vê-se dum lado ao
outro das moradas. As casas são como palcos, onde acontecem cenas que até se
podiam presenciar – fosse alguém ligar..
Na Holanda, as cores são fortes mas faltam sombras
das árvores e dos montes, atrás dos quais nasça e se ponha o sol - que não há.
A Holanda é um país liso e sem perspectiva, como certas pinturas. Tem-se a
impressão de que tudo acontece num mesmo plano, no qual gente, casas, gado,
flores, bicicletas, barcos, canais, campos e estradas, tudo se gerou duma vez.
Percebo os quadros de Brueghel: nada diferencia os acontecimentos no espaço,
nada se perde no tempo. Nem se tem a impressão de tempo; a Holanda não é um
país novo mas é eterno presente.
Na Holanda há imensa água
mas nunca se avista, nem se adivinha o mar. É manso, está escondido atrás dos
diques e é preciso subir para o ver. Noutros lugares desce-se para o mar.
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