O que escrevo não tem nome próprio, nem título, é
inqualificável. São textos, frases, observações, pensamentos, emoções,
impressões, dúvidas, perguntas, anotações, fragmentos dos meus dias.
Como estou longe, escrevo cartas a relatar o que
nos acontece, o que vejo, o que me impressiona e me entretém. Mas os relatos
cansam-me um pouco.
Escrever é pensar: penso a escrever, porque é mais
devagar. Escrevo aquilo que não sei dizer. Escrever, é um exercício de higiene
mental para esclarecer, arrumar ideias e melhor formular perguntas.
Escrever é uma forma de perscrutar o silêncio, de
o deixar falar, desvelar, mostrar. O silêncio, não esconde; quando muito cala!
Falar, ilude.
Escrever, é trabalho de precisão e de microscópio,
procurar a palavra exacta para uma ideia, detectar e fotografar, com a escrita, a
mais ínfima e fugaz impressão. Escrever é traduzir o que me vai na alma. A
beleza dum texto está no seu rigor, na fidelidade das palavras àquilo que
descrevem. O que escrevo pode ser poético mas não sacrifico a exactidão, em
favor da elegância do texto: é uma norma ética da escrita!
Escrever é uma solidão, é uma viagem de ida, um
passeio clandestino pela paisagem de normalidade dos outros, povoada de
fantasmas incógnitos e abismos insuspeitos.
Escrever é avançar mudamente entre sombras e
vultos, no nevoeiro; é ora luz que cega, ora penumbra, ora escuridão. É sonho
de carne e osso, é tropeçar, colidir com as coisas, com o espectro da realidade
que agonia e fere e dói.
Os meus escritos são inqualificáveis e avançam
como os meus dias. Escrever é errar por caminhos desconhecidos, navegar num mar
de equívocos, num mapa que constantemente se transforma.
Reticências não são reticentes, apenas
preguiçosas. Deixam o trabalho de escrever ao leitor. Não quero usar a
pontuação como artimanha.
Traduzir também é escrever, rescrever.
Saber escrever, é saber pensar.
Escrever bem, implica ser-se meticuloso na escolha
das palavras, uma precisão fotográfica. Escolher apenas a palavra mais
aproximada, fere a verdade. Uma palavra aproximada é a mais inexacta, ambígua,
fruto da preguiça, é medíocre. Induz em erro. É como um retrato desfocado.
Receio a falta de rigor a escrever, pois temo que
as palavras excedam aquilo que penso. Prefiro calar. O silêncio pode omitir, mas
pelo menos é honesto e por isso, rigoroso. O silêncio pode ser abstenção. O
discurso engana mais que o silêncio.
As metáforas são um remédio que uso quando não
tenho palavras? As imagens são fortes, sobretudo para sublinhar o absurdo.
Que mal têm as repetições de palavras? Se não
podem eliminar-se, é porque são uma insistência e são necessárias.
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