Sunday 22 September 2013

Rigores da Escrita


O que escrevo não tem nome próprio, nem título, é inqualificável. São textos, frases, observações, pensamentos, emoções, impressões, dúvidas, perguntas, anotações, fragmentos dos meus dias.
Como estou longe, escrevo cartas a relatar o que nos acontece, o que vejo, o que me impressiona e me entretém. Mas os relatos cansam-me um pouco.
Escrever é pensar: penso a escrever, porque é mais devagar. Escrevo aquilo que não sei dizer. Escrever, é um exercício de higiene mental para esclarecer, arrumar ideias e melhor formular perguntas.
Escrever é uma forma de perscrutar o silêncio, de o deixar falar, desvelar, mostrar. O silêncio, não esconde; quando muito cala! Falar, ilude.
Escrever, é trabalho de precisão e de microscópio, procurar a palavra exacta para uma ideia, detectar e fotografar, com a escrita, a mais ínfima e fugaz impressão. Escrever é traduzir o que me vai na alma. A beleza dum texto está no seu rigor, na fidelidade das palavras àquilo que descrevem. O que escrevo pode ser poético mas não sacrifico a exactidão, em favor da elegância do texto: é uma norma ética da escrita!
 Escrever é uma solidão, é uma viagem de ida, um passeio clandestino pela paisagem de normalidade dos outros, povoada de fantasmas incógnitos e abismos insuspeitos.
Escrever é avançar mudamente entre sombras e vultos, no nevoeiro; é ora luz que cega, ora penumbra, ora escuridão. É sonho de carne e osso, é tropeçar, colidir com as coisas, com o espectro da realidade que agonia e fere e dói.
Os meus escritos são inqualificáveis e avançam como os meus dias. Escrever é errar por caminhos desconhecidos, navegar num mar de equívocos, num mapa que constantemente se transforma.


Reticências não são reticentes, apenas preguiçosas. Deixam o trabalho de escrever ao leitor. Não quero usar a pontuação como artimanha.

Traduzir também é escrever, rescrever.
 Saber escrever, é saber pensar.

Escrever bem, implica ser-se meticuloso na escolha das palavras, uma precisão fotográfica. Escolher apenas a palavra mais aproximada, fere a verdade. Uma palavra aproximada é a mais inexacta, ambígua, fruto da preguiça, é medíocre. Induz em erro. É como um retrato desfocado.


Receio a falta de rigor a escrever, pois temo que as palavras excedam aquilo que penso. Prefiro calar. O silêncio pode omitir, mas pelo menos é honesto e por isso, rigoroso. O silêncio pode ser abstenção. O discurso engana mais que o silêncio.


As metáforas são um remédio que uso quando não tenho palavras? As imagens são fortes, sobretudo para sublinhar o absurdo.

Que mal têm as repetições de palavras? Se não podem eliminar-se, é porque são uma insistência e são necessárias.

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