A minha terra é no mar. Não este lugar farrusco,
perdido no continente, nascido das pedras, lugar de ventos sem rumo, ponto
oculto nos mapas, sob céus parados e sujos.
A minha terra é para além de Espanha e a Espanha imensa é o deserto, planícies de terra amarela e de ninguém, terra espinhosa, de estradas infindáveis entre campos inóspitos e aldeias abandonadas… A minha terra fica no mar.
A minha terra não é no Sul, não é a capital amena, pegajosa, temperada, transpirada e vagamente salgada, à beira do rio lento e leitoso, cidade litoral donde nunca se avista o mar.
Na minha terra rebenta o mar, chove mar, corre desvairado o vento salgado, levantam-se as areias. Na minha rua passeiam gaivotas, no meu telhado pousam, fitando as docas. À minha terra chega o mar, à minha porta troveja o mar, no meu sono sussurra o mar.
Manhãs tardias, chuviscosas, de neblina e maresia, a ronca ecoando nas vielas, as águas sossegadas do cais, as ruas lavadas pela noite fria. Tardes ventosas, varridas pela nortada que encarapela as ondas e morre nas matas… Na minha terra há carneiros no mar…
Dias límpidos e frescos, traineiras coloridas lavrando as vagas, céus azuis, altos, para lá do sol, noites pretas em que se apagam as estrelas e esmorece a lua.
A minha terra é atlântica, o seu ruído são as traineiras, as dragas, a ronca, os gritos das gaivotas, o seu silêncio, as ondas… A minha terra é fria, agreste mas não é árida; na minha terra não acaba o mar.
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