Abri uma loja nova,
Onde vendo palavras
Para todos os gostos:
Na montra e escaparates,
Só se veem as bonitas...
Mesmo à mão, na gaveta do balcão,
Tenho as de recurso...
Por baixo, no armário,
Pus as feias
E, verdade seja dita,
Um ou outro palavrão!
O palavreado mais vasto, porém,
Está na arca dos chavões!
É para fregueses bem-falantes,
Gente fina,
De falinhas mansas,
Que entra com pezinhos de lã,
E pela calada,
Só para ver e fazer sala.
À gente que desdenha, mas quer comprar
Reservo palavras ambíguas a condizer:
Ora mansas, suaves,
Ora, sonantes e ofuscantes,
Inflacionadas e falsas,
Perfeitas para preencher o figurino,
Para sua conversa fiada
E de chacha!
Para esses, tenho até a jeito
Frases gratuitas, já feitas!
As aparências iludem e
Assim os fala-baratos,
Levam palavras
Que soam caras,
Dessas que vestem
E se vendem bem,
Sempre por muito dinheiro!
Ao fim, sorriem com os dentes,
Fazem o choradinho,
E com lágrimas de crocodilo
E como quem não quer a coisa,
Perguntam:
“Qual é o menos que faz?...
...Se eu levar palavras ocas avulso,
Para compor o ramalhete?”
São da laia que avio com desdém e ironia,
E não dou troco pela demasia!
Para indecisos e gente de poucas falas,
As palavras de mastigar e ruminar
Vêm mesmo a calhar.
A quem prefere
Preto no branco,
Pão-pão, queijo-queijo,
Aconselho, conquanto difíceis,
As palavras cruzadas!
Aos tristes, sós, desprovidos, sem voz,
Entrego sem taxa, ao domicílio,
Palavras amigas e de conforto.
Já as palavras de honra,
De ouro, prata, sem preço,
Estão no cofre,
E não são para qualquer um!
Enfim, palavras para quê?...
Era tudo o que tinha a dizer!
Caso queira encomendar,
Basta deixar uma palavrinha
Que eu avio!
Palavra!
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