Tuesday 10 January 2023

Palavra!


Abri uma loja nova,

Onde vendo palavras

Para todos os gostos:

Na montra e escaparates,

Só se veem as bonitas...

Mesmo à mão, na gaveta do balcão,

Tenho as de recurso...

Por baixo, no armário,

Pus as feias 

E, verdade seja dita,

Um ou outro palavrão!

 

O palavreado mais vasto, porém,

Está na arca dos chavões!

É para fregueses bem-falantes,

Gente fina,

De falinhas mansas,

Que entra com pezinhos de lã,

E pela calada,

Só para ver e fazer sala.

 

À gente que desdenha, mas quer comprar

Reservo palavras ambíguas a condizer:

Ora mansas, suaves,

Ora, sonantes e ofuscantes,

Inflacionadas e falsas,

Perfeitas para preencher o figurino,

Para sua conversa fiada

E de chacha!

Para esses, tenho até a jeito

Frases gratuitas, já feitas!

 

As aparências iludem e

Assim os fala-baratos,

Levam palavras

Que soam caras,

Dessas que vestem 

E se vendem bem,

Sempre por muito dinheiro!

Ao fim, sorriem com os dentes,

Fazem o choradinho,

E com lágrimas de crocodilo

E como quem não quer a coisa,

Perguntam:

“Qual é o menos que faz?...

...Se eu levar palavras ocas avulso,

Para compor o ramalhete?”

São da laia que avio com desdém e ironia,

E não dou troco pela demasia!

 

Para indecisos e gente de poucas falas,

As palavras de mastigar e ruminar

Vêm mesmo a calhar.

 

A quem prefere

Preto no branco,

Pão-pão, queijo-queijo,

Aconselho, conquanto difíceis,

As palavras cruzadas!

 

Aos tristes, sós, desprovidos, sem voz,

Entrego sem taxa, ao domicílio,

Palavras amigas e de conforto.

 

Já as palavras de honra,

De ouro, prata, sem preço,

Estão no cofre,

E não são para qualquer um!

 

Enfim, palavras para quê?...

Era tudo o que tinha a dizer!

Caso queira encomendar,

Basta deixar uma palavrinha

Que eu avio!

Palavra!

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