Um encantamento não é feitiço, nem paixão. Um
encantamento não tem sofrimento, não tem desespero, nem vertigem, nem abismo. É
sem gravidade, não é excessivo, não faz sofrer. Um encantamento tem música, é
bailado, dá vida, não morre, apenas se quebra. E se se quebra, apenas
adormecemos.
A paixão cega. O encantamento ilumina, não
persegue. Um encantamento, ao invés da paixão, não se alimenta. Mas a paixão pode
ter o seu encanto.
Se pintasse um encantamento, pintava um despertar
feliz e sem alarme. Milhares de perguntas, muitos sóis e luas… um universo
cintilante. Um rapazinho ao sol, como o de Miró. Ou a feira, em noite de S.
João, à beira-mar, um menino com uma mão-cheia de balões, no meio dos
carrosséis, fogo-de-artifício, estrelas cadentes desferindo os céus amenos do
verão. Ondas de prata, rebentando ao longe nas areias lisas, o feixe alvo, do
farol altivo, cruzando mudo o firmamento, brilhando sobre as vagas cheias!
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